4º CMN: Teólogo destaca missão ad gentes como horizonte da Igreja em saída
de Jaime C. Patias – 08/09/2017
“O Evangelho não vale nada se não for compartilhado”. A afirmação é do padre Estêvão Raschietti, durante conferências no 4º Congresso Missionário Nacional (4º CMN) que reúne, de 7 a 10 de setembro, em Recife (PE), 700 pessoas de todos os estados do Brasil.
O missionário xaveriano iniciou sua reflexão com uma frase do papa Bento XVI, extraída da Mensagem para o Dia Mundial das Missões de 2012, onde afirma: “A missão ad gentes deve ser o horizonte constante e o paradigma de toda a atividade eclesial”. Em seguida esclareceu que, “a missão ad gentes diz respeito ao envio transcultural de missionários e missionárias em meio a grupos humanos de outros credos e de outras tradições religiosas. Essa missão inclui a opção preferencial pelos pobres”, disse o missiólogo.
Esse contexto foi ilustrado por um vídeo contendo o testemunho da leiga missionária gaúcha, Daniela Gamarra, que esteve por cinco anos em Moma, arquidiocese de Nampula, norte de Moçambique. A partilha da missionária lançou luzes sobre a prática da missão ad gentes (aos povos, e além-fronteiras, um dos objetivos do 4º CMN.
Nesse sentido, padre Estêvão destacou a necessidade de “redescobrir o dom da missão ad gentes que nas palavras do papa João Paulo II, ‘está ainda no começo’”.
Segundo o teólogo, a missão tem um movimento da saída (proximidade) e de entrada (encontro). “Saímos não porque queremos, mas porque Jesus nos envia. Em segundo lugar, somos enviados porque o Evangelho, por ser uma Boa Notícia, tem em si um conteúdo de saída”. Por isso, “o Evangelho não vale nada se não for compartilhado”, ponderou.
Padre Estêvão lembrou que o processo de saída implica sempre um processo de entrada para encontras o outro. “A Igreja sai de casa para entrar na casa do outro, tirando as sandálias, tornando-se hóspede. Uma Igreja de portas abertas não é somente uma Igreja que acolhe a todos, mas principalmente uma Igreja que sai para se dispor a ser acolhida pelo outro”. Essa saída requer conversão, um despojamento radical. “Entrar como hospede na casa do outro é assumir a condição de peregrino e de estrangeiro”, disse o missiólogo.
Nesse movimento, padre Estêvão destacou dois horizontes: o existencial que diz respeito às periferias e o escatológico que é o Reino de Deus.
A missão ad gentes tem também a sua “geografia e seu horizonte até os confins da terra, porque é de fundamental importância o lugar aonde nós vamos para encontrar as pessoas”. “Para o papa Francisco, – lembrou ele – esse horizonte limite são as periferias globais, lugares de exclusão, de marginalidade, de fronteira, aonde hoje moram as vítimas de um sistema socioeconômico injusto em sua raiz”. A categoria periferia equivale, portanto, à “opção preferencial pelos pobres”, muito presente na tradição da Igreja na América Latina. “A periferia é lugar de chegada e de partida da missão”, afirmou padre Estêvão.
O horizonte escatológico é o tempo do Reino de Deus. “Esse Reino está presente no meio de nós como um hóspede e um peregrino, como um sinal que aponta um caminho e um sacramento que nos faz saborear a meta definitiva”. Retomando o papa Francisco, padre Estêvão sublinhou que “a missão da Igreja inspira uma experiência de exílio contínuo, para fazer sentir no ser humano sedento de infinito a sua condição de exilado a caminho da pátria definitiva”. E segundo ele, “é a partir desse viver como peregrina, livre e estrangeira que a Igreja precisa se repensar em termos de conversão missionária”.
Na opinião do teólogo, a conversão missionária exige “abandonar as estruturas caducas da ideologia religiosa e retomar a fé no Deus de Jesus Cristo, transformando a mentalidade (metanóia), as relações (sinodalidade e comunhão) e as ações (testemunho e profetismo) e projetando-se continuamente além das fronteiras”.
Recordando o tema do Congresso, padre Estêvão conclui destacando que “uma Igreja em saída é uma Igreja que abre seu coração aos clamores de todos os povos e da criação que nos interpela. Uma Igreja em saída é uma Igreja missionária, pobre, solidária e destemida, sinal mais eloquente de que ainda não desistimos do Reino de Deus”.
As reflexões das conferências são aprofundadas em mais de 20 oficinas por sujeitos de missão.