5º Simpósio de Missiologia propõe Animação Missionária “em saída”
de Jaime Patias – 17/03/2016
Durante o 5º Simpósio de Missiologia sobre a missão no pontificado de papa Francisco, realizado no Centro Cultural Missionário (CCM) em Brasília (DF), o professor Memore Restori, mestre em missiologia e assessor do CCM, refletiu sobre os caminhos de animação e conversão missionária para uma ecologia integral.
Promovido pelo CCM e pela Rede Latino-Americana de Missiólog@s (RELAMI), o evento reuniu nos dias 13 a 17 de março, 45 pesquisadores, mestres, doutores, especialistas, membros e representantes de comunidades, instituições e organismos de todo o Brasil.
O tema debatido pelo professor Memore Restori teve por objetivo tornar mais significativas as ações dos Conselhos Missionários em suas comunidades diocesanas e paroquias, como também as iniciativas dos agentes e organizações que trabalham com escolas de ensino fundamental e médio.
Para Restori, o papa Francisco, desde a sua nomeação, deu um “impulso centrífugo” à Igreja, convidando-a a libertar-se “do campo gravitacional ao redor de si mesma, a sair do espaço apertado da sacristia com cheiro de incenso, para se aventurar no espaço infinito do mundo contraindo assim o cheiro de ovelha”. Não há como não enxergar um paralelo com a inauguração do Concílio Vaticano II. “As dificuldades e as resistências encontradas pelos dois papas (João XXIII e Francisco) foram as mesmas: eles, porém, permaneceram firmes”, afirma o missiólogo, que ainda salienta: “estes elementos deveriam ser um incentivo para a animação missionária ser mais ousada, desvinculada de quaisquer amarras, sem medo de se enveredar por caminhos ainda inexplorados”.
Tomando em consideração a Encíclica Laudato Si’, o assessor revela que há um refrão que acompanha todo o documento do papa: tudo está interligado. “Percebe-se que o ‘pensamento complexo’ está subjacente, convidando o leitor a uma nova maneira de perceber e pensar o mundo. É preciso olhar sempre a realidade como um conjunto de interações complexas, superando a fragmentação que leva ao reducionismo e a falsificação da realidade”, afirma o missiólogo.
Francisco quer se dirigir não somente às igrejas, mas a cada pessoa, interagir com todos, gerar um “feedback” universal. A Encíclica, para Restori, “tem um respiro universal, capaz de reconhecer e valorizar a busca e a sabedoria que brota do seio da humanidade”. E mais: “com a expressão ‘ecologia integral’, o papa Francisco convida a todos para enxergar o mundo com outros olhos para perceber a interligação entre todas as coisas, entre as diversas dimensões: ambiental, social, política, econômica, humana, cultural, espiritual, etc.”.
Nessa altura, cabe a pergunta: “se ‘tudo está interligado’, tem sentido a afirmação que a Igreja não deve se meter em política, em economia e em tantas outras coisas?” A animação missionária, segundo o assessor, “deveria pensar no enorme trabalho que poderia desenvolver para mudar o mundo com o fermento do Evangelho, particularmente, nos âmbitos educativos como a escola, a família, os meios de comunicação, a catequese, e outros, visando educar à mundialidade, à interculturalidade e ao meio ambiente”.
Em sua exposição, professor Restori trabalhou possíveis caminhos para uma animação missionária que aponte para uma ecologia integral. Para ele, uma animação missionária imbuída do espírito da próprio amadurecimento na fé: “chegar a atingir e como que modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação” (EN 19). É preciso, portanto, de uma “animação missionária em saída, derivante de uma Igreja em saída e de uma teologia em saída”.
Restori afirma que “a animação missionária deve conduzir a Igreja missionária a uma nova maneira de pensar que supere uma visão fragmentada e antropocêntrica da realidade”. Essa nova consciência poderá dar origem a novos hábitos que recuperem também os distintos níveis de equilíbrio ecológico: o interior consigo mesmo, o solidário com os outros, o natural com todos os seres vivos, o espiritual com Deus (cf. LS 210).
Para isso, será necessário investir em Cursos de Formação sobre a Educação à Mundialidade e à Interculturalidade na perspectiva de uma “Ecologia Integral” (Ecologia cultural + Educação Ambiental) visando educar para uma nova aliança entre a humanidade e a humanidade e o ambiente. “A perspectiva intercultural comporta uma verdadeira mudança de paradigma em nível pedagógico. Passa-se da integração à procura da acolhida das diferenças. Trata-se de um modelo que não é simples nem fácil de seguir”.
Em seguida, organizados em grupo, os participantes do Simpósio avaliaram as possibilidades de viabilizar propostas, quais destinatários priorizar e como articular ações. Partilharam conteúdos que para ajudar os demais organismos e grupos de animação missionária a ter uma apropriada reflexão, uma proposta de conversão, uma clareza de horizontes e uma ousada ação evangelizadora.
Fonte: POM