Simpósio de Missiologia promovido por CCM, POM e RELAMI destaca as Bem-aventuranças do Reino
de Jaime Patias – 22/02/2017
“(Des)compassos de uma Igreja em saída. Dez anos de Aparecida à luz de uma Igreja sinodal e martirial”. Este é o tema do 6º Simpósio de Missiologia que acontece ao longo desta semana, dias 20 a 24, em Brasília (DF). O evento reúne no Centro Cultural Missionário (CCM), cerca de 70 pessoas entre teólogos, missiólogos, pesquisadores, representantes de instituições missionárias, agentes de pastoral de todo o Brasil.
Além de incentivar o debate missiológico a reflexão lança luzes sobre o 4º Congresso Missionário Nacional a ser realizado nos dias 7 a 10 de setembro de 2017, em Recife (PE), com o tema “A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída”.
O Simpósio contou, na manhã desta terça-feira, 21, com a contribuição da missionária Xaveriana, Irmã Tea Frigerio, do Centro de Estudos Bíblicos (Cebi). Em sua conferência, a biblista refletiu sobre as Bem-aventuranças no Evangelho de Mateus. “Viver as Bem-aventuranças numa Igreja em saída” é o farol que deve orientar “uma nova maneira de ser, crer e evangelizar”, afirmou Irmã Tea ao apresentar as Bem-aventuranças como um caminho com propostas radicais de discipulado em vista de novas relações que incluem o cuidado de toda a criação.
Irmã Tea mostrou que estas palavras ecoam na Evangelii Gaudium, na Laudato sì e em outros pronunciamentos de papa Francisco. “Nossa vocação como comunidades cristãs é de sermos povo das Bem-aventuranças, tendo Jesus Cristo como única segurança. Somos chamados (as) a criar comunidades alternativas ao sistema de morte”, destacou.
Ao aprofundar o Evangelho de Mateus, a conferencista mostrou as semelhanças entre seus destinatários e os cristãos de hoje. No I século, “a ‘Boa Notícia’ enfrentava problemas muito semelhantes aos nossos: descaso com os pobres, tendências, discordâncias e conflitos nas nossas igrejas, lentidão em comprometer-se com as questões sociais e da justiça, e marginalização do diferente”. Para viver a Boa Notícia, “os discípulos do 1º século deviam proclamar um evangelho diferente do evangelho do império, isto é, o evangelho do Reino que promove a justiça, a paz, a integridade da vida e da criação”, observou a religiosa.
Em Mateus temos uma espiritualidade evangélica baseada na metáfora da ‘oikos’ que significa ‘casa’. O caminho espiritual é permitir que Deus estabeleça sua moradia em nossos corações. Isso vai determinar nossa maneira de estar no mundo.
Segundo Irmã Tea, “a casa era a estrutura base do Império. A oikos era entendida como o conjunto de pessoas e bens no sentido econômico, ecumênico e ecológico”. Isso aponta para o fato que “vivemos num mundo profundamente interdependente”. O convite é para reconstruir a nossa casa que abrange toda a humanidade.
De acordo com Irmã Tea, houve uma nova compreensão na aplicação das Bem-aventuranças. “Antes falávamos somente para os religiosos, os padres. Depois, para os cristãos, as comunidades. Agora ampliamos o horizonte para todo a humanidade no sentido de Casa Comum”. Essa evolução é fruto de um esforço para superar a visão proselitista do mandato de “fazer discípulos” que não seria “fazer membros de uma religião ou Igreja”, mas “praticantes da Palavra”.
“A mensagem subversiva de Jesus se radicaliza no fato que o seguimento do Reino compreendia as Bem-aventuranças e declarava digno de honra quem não compactuava com as dinâmicas ofensivas e violentas do Império. Por isso quem aceitava ser membro dessa família e aceitava uma autoridade diferente a de Roma, facilmente podia ser perseguido (a).”
Atualizando o texto, Irmã Tea lembrou a vida dos mártires e citou Irmã Dorothy Stang que há 12 anos, antes de ser assassinada afirmou: “Não vou fugir e nem abandonar a luta dos agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor na terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”.
Os poderosos que perseguiam e matavam os promotores da justiça no passado, continuam matando hoje.
Os destinatários das Bem-aventuranças são os “marginários involuntários: os pobres, as ovelhas sem pastor, os pequenos injustiçados e perseguidos. O Jesus de Mateus não diz que veio trazer a paz, mas a justiça. A sua justiça criará divisões quando as pessoas não aceitarem a Boa Notícia. Mas aos que na casa aceitam este modelo de fazer a paz, Jesus lhes diz: em verdade, eu vos digo: não perderá sua recompensa” (Mt 10,42), disse a biblista.
A programação do Simpósio inclui exposições, debates e grupos de estudo sobre o Texto-base do 4º Congresso Missionário Nacional. Contempla também plenários, testemunhos missionários, apresentações de iniciativas e publicações.
O Simpósio é promovido todos os anos pela Rede Ecumênica Latino Americana de Missiólogos e Missiólogas (Relami), o Centro Cultural Missionário de Brasília (CCM), as Pontifícias Obras Missionárias (POM).
Fonte: POM