Sínodo Pan-Amazônico: o diálogo, a Igreja e o cuidado com a Casa Comum
de Osnilda Lima* – 13/12/2017
Há um tempo a Igreja que está na Pan-Amazônia aguardava o anúncio do papa Francisco convocando para o Sínodo Pan-Amazônico. E no último dia 15 de outubro, o comunicado: “Atendendo o desejo de algumas Conferências Episcopais da América Latina, assim como ouvindo a voz de muitos pastores e fiéis de várias partes do mundo, decidi convocar uma Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Pan-Amazônica. O Sínodo será em Roma, em outubro de 2019.
O objetivo principal desta convocação é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso Planeta. Que os novos Santos intercedam por este evento eclesial para que, no respeito da beleza da Criação, todos os povos da terra louvem a Deus, Senhor do universo, e por Ele iluminados, percorram caminhos de justiça e de paz”, disse o papa Francisco.
O cardeal Cláudio Hummes, Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos bispos do Brasil (CNBB) e da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), afirma que a chamada para o Sínodo é motivo de muita alegria. “Estava se esperando essa convocação. De fato, esperávamos que o papa quisesse ouvir as Igrejas da Pan-Amazônia, e a melhor forma é por um Sínodo. Agora estamos diante do desafio de prepará-lo”, conta.
Dom Cláudio lembra que a partir do início 2018 deverão chegar os questionários para a preparação do Sínodo. “E o papa quer a participação de todos e nos pede propostas corajosas. Está aí um momento importante que todos nós poderemos participar”, assegura o cardeal. “O Sínodo para a Pan-Amazônia não será apenas um evento em outubro de 2019 que se realizará em Roma. Haverá toda uma programação em que o povo, os bispos serão ouvidos”, lembra dom Erwin Krautler, presidente da Repam-Brasil. Dom Erwin ressalta que as leigas e leigos deverão ser ouvidos eles têm direito de se manifestar a respeito da Amazônia.
“O papa falou de três objetivos para este Sínodo: O primeiro, novos caminhos para a evangelização, e se não ouvirmos as leigas e leigos, em que vai ficar? As leigas e leigos tem um trabalho intenso na Igreja, não podemos imaginar a Igreja sem o compromisso que eles assumem. Outro é o enfoque especifico dos povos indígenas, aí estamos muito no início, temos que avançar e muito. Que tipo de evangelização queremos? Como incluir os povos indígenas? Não poderemos chegar de cima para baixo. Os povos indígenas são protagonistas de sua própria história. E por fim a Amazônia como um todo, seu valor, sua vocação, sua missão de regulamentar o clima planetário”, nota o bispo.
Participantes de encontro na região Amazônica promovido pela Repam
Laudato sí – A convocação para o Sínodo Pan-Amazônico lança novamente um olhar – que já vem sendo insistido pelo papa Francisco desde a Carta Encíclica Laudato SÌ – sobre a realidade deste chão tão importante para o mundo, a Pan-Amazônia. São tantos povos, tantas, riquezas, mas violados, explorados e degradados. “Como nunca na história, o destino comum obriga-nos a procurar um novo inicio […]. Que o nosso seja um tempo que recorde pelo despertar de uma nova reverência perante a vida, pela firme resolução de alcançar a sustentabilidade, pela jubilosa celebração da vida”, Carta da Terra, em Haia, junho de 2000.
Pensar num Sínodo para a Pan-Amazônia é pensar nos povos e nações que vivem nos nove países que tem em seu território o bioma Amazônico, sendo o Brasil: 67%, Peru: 13%, Bolívia: 11%, Colômbia: 6%, Equador: 2%, Venezuela: 1%. Suriname, Guiana e Guiana Francesa somam 0,15% deste bioma.
Pensar num Sínodo Pan-Amazônico é olhar para a América do Sul onde habitam 2.779.478 indígenas pertencentes a 390 povos originários e cerca de 137 povos “isolados” (não contatados). São pessoas que falam 240 línguas diferentes, pertencentes a 49 ramos linguísticos, as mais relevantes do ponto de vista histórico e cultural. Contudo, é preciso lembrar as comunidades ribeirinhas, os territórios Remanescentes de Comunidades Quilombolas, enfim, os povos da floresta, as comunidades tradicionais. Lembrar também as populações urbanas, pois aproximadamente 79% vivem em centros urbanos na Amazônia brasileira.
O Sínodo terá presente a evangelização na Pan-Amazônia e é preciso mais do que nunca pensar a evangelização a partir da cultura desses povos que tem um modo de relacionar-se com o Sagrado, tem sua espiritualidade, vivem uma fé, relacionam-se com o “Deus Onipotente, presente em todo o universo e na mais pequenina das criaturas, e que envolve com ternura tudo o que existe”, papa Francisco Laudato sì, nº 246. Esses povos vivem uma espiritualidade e uma cultura ecológica, vivem uma aliança entre humano e ambiente. É preciso falar de interculturalidade.
* Assessora de Comunicação Repam
Fonte: POM