As encíclicas são sinais dos tempos, afirma palestrante do Simpósio de Missiologia
de Jaime Patias – 14/03/2016
Irmã Inês Costalunga foi a palestrante da manhã desta segunda-feira, 14 de março, do 5º Simpósio de Missiologia promovido pelo Centro Cultural Missionário de Brasília (CCM) e a Rede Ecumênica Latino Americana de Missiólogos e Missiólogas (RELAMI), realizado em Brasília.
A religiosa abordou o tema “Sinais dos tempos e tempo da misericórdia. A visão da realidade e da ação de Deus na história, segundo Francisco: angústias e esperanças do tempo presente”. Irmã Inês Costalunga, doutora em teologia e coordenadora da pós-graduação do Itesp, revisitou as principais encíclicas sociais dos papas como a Rerum Novarum – Leão XIII (1891), Quadragesimo anno – Pio XI (1931); Mater et Magistra – João XXIII (1961); Pacem in Terris – João XXIII (1963), Populorum progressio – Paulo VI (1967); Laborem Exercens – João Paulo II (1981); Sollicitudo rei socialis – João Paulo II (1987). Por fim destacou a Exortação Evangelii Gaudium e a Encíclica Laudato sì – do papa Francisco.
Por meio dessas encíclicas, a missióloga recordou os temas fundamentais defendidos pelos papas conforme cada época. Isso mostra a permanente manifestação de Deus na história através dos sinais dos tempos. Os temas abordados são: a pessoa humana, sua dignidade, seus direitos e suas liberdades; a família, sua vocação e seus direitos; inserção e participação responsável do ser humano na vida social; a promoção da paz; o sistema econômico e a iniciativa privada; o papel do Estado; o trabalho humano; a comunidade política; o bem comum e sua promoção, os princípios da solidariedade e subsidiariedade; o destino universal dos bens da natureza, o cuidado com a sua preservação e a defesa do meio ambiente; o desenvolvimento integral de cada pessoa e dos povos; o primado da justiça e da caridade, entre outros.
“Os sinais dos tempos são sinais da presença de Deus na história, na vida de cada povo, de cada continente, de cada grupo social. Então existe sim essa preocupação com o bem comum e existe esse aprofundamento na vida missionária de toda igreja, de todos os povos, eu diria até do compromisso de todas as religiões. Se não houvesse esse compromisso não seriam religiões, não seriam igrejas. Se não houvesse esse compromisso com todos e para o bem de todos não seríamos os seguidores de Jesus”, afirmou a religiosa.
A professora recordou a homilia do papa Francisco na missa do dia 23 de outubro de 2015, na Casa Santa Marta, inspirado nas leituras do dia (Rm 7,18-25 e Lc 12,54-59) onde sublinhou “a responsabilidade de todos em reconhecer os sinais dos tempos. Lembrou aos ouvintes que precisamos do dom do discernimento e da inspiração da oração para compreender e observar os ‘sinais dos tempos’, para não ceder à comodidade do conformismo”.
Em sua homilia o papa lembrou que “temos a liberdade de julgar o que acontece fora de nós, conhecer os diferentes tempos e seus sinais e fazer isto sem medo, com liberdade, no silêncio, na reflexão e na oração. Reconhece que essa não é uma tarefa fácil, pois são muitos os condicionamentos externos que pressionam também os cristãos e induzem muitos a um mais cômodo não fazer”.
O papa disse ainda que “os tempos mudam e nós devemos mudar continuamente. Devemos mudar firmes na fé em Jesus Cristo, firmes na verdade do Evangelho, mas o nosso comportamento deve se mover continuamente de acordo com os sinais dos tempos. Somos livres pelo dom da liberdade que Jesus Cristo nos deu”.
Irmã Inês destacou que, com a Evangelii Gaudium e a Laudato sì, o papa Francisco, além de questionar o mundo e a sociedade, questiona a própria Igreja a partir da realidade. Segundo a missióloga isso representa uma novidade em termos de postura no pontificado e um impacto causado perante toda a sociedade.
“O papa Francisco impacta porque ele vem desta caminhada. Ele é uma pessoa que saiu das migrações, viveu, junto com a família, as mazelas da primeira e da segunda guerra mundial. Ele conheceu toda a pobreza e as dificuldades do continente americano. Papa Francisco acompanhou todas as conferências. Ele praticamente é o redator da última conferência que é a Conferência de Aparecida. Então ele vem desta caminhada eclesial comprometido com tudo, com todos, em benefício de todos”, concluiu a religiosa.
Na parte da tarde os participantes do Simpósio, organizados em grupos, aprofundaram a temática e evidenciaram os principais sinais dos tempos hoje na Igreja e na sociedade.
O Simpósio que se estende até quinta-feira, 17, reúne no CCM em Brasília 50 pessoas entre docentes, teólogos, pesquisadores, representantes de instituições missionárias, agentes de pastoral de todo o Brasil.
Fonte: POM