CEBs 15º Intereclesial – Mensagem às comunidades
de 15º Intereclesial – 22/07/2023
CEBs: Igreja em saída, na busca da vida plena para todos e todas! “Vejam! Eu vou criar Novo Céu e uma Nova Terra” (Is 65,17ss)
Queridas irmãs e irmãos da caminhada, reunidos/as em Rondonópolis, Mato Grosso para a celebração do 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base, nós, os mil e quinhentos participantes, tivemos a sensação exata de que éramos representantes de um coletivo muito maior, formado pelas milhares CEBs espalhadas por todo o país. Desta forma, você estava presente também, apesar da distância.
A alegria foi a grande marca do encontro, pois, nos olhávamos como verdadeiros e verdadeiras sobreviventes da pandemia e dos seis anos de desgoverno que nos afligiu. Guiamo-nos pelo método ver-julgar-agir, de 18 a 22 de julho, e de modo fiel aos gritos e desafios de todas e todos vocês, fizemos uma maravilhosa ciranda inclusiva.
O rosto das CEBs neste 15º Intereclesial revelou a identidade das comunidades com seus mais variados membros: cristãos leigos e leigas, pessoas LGBTQIAP+, diáconos e padres, religiosos e religiosas, bispos católicos e representantes de outras Igrejas, irmãs de caminhada. A força da juventude e das irmãs e irmãos pretos e indígenas, nos fizeram sentir o calor do testemunho, da resistência e da resiliência. Um rosto latino-americano, com expressões de todas as regiões do Brasil e de outros países.
Vimos que a desigualdade social é fruto de um sistema capitalista neoliberal, político e financeiro, de natureza excludente e concentrador de renda. Em decorrência dele, constatamos uma triste realidade, como: a imensa fila de desempregados e desempregadas, de trabalhadores e trabalhadoras informais, muitos/as em trabalhos análogos à escravidão; a fome, a educação e a saúde sucateadas, a falta de saneamento básico, o desmatamento e incêndios criminosos afetando os diversos biomas, a poluição das águas, do ar e da terra, destruindo a vida do planeta e das pessoas, o uso desregulado de agrotóxicos, o avanço do agronegócio e da mineração, o tráfico de entorpecentes e de pessoas, a questão urbana dominada pela violência, a presença de forças paramilitares, o armamento insano, o racismo estrutural e o alto índice de violência contra as mulheres e de feminicídios, o sistema carcerário injusto clamando pelo desencarceramento, a migração forçada e o sofrimento dos migrantes e refugiados, a criminalização dos movimentos sociais; o acesso seletivo dos meios tecnológicos, os constantes ataques aos direitos já conquistados por meio de leis que passam pelo Congresso Nacional, a exemplo de Projetos de Lei sem discussão ampla com a sociedade, a Reforma da CLT e da Previdência, e o marco temporal.
Olhando para o interno da Igreja, por um lado, as CEBs se ressentem pela falta de apoio de parte significativa do clero e, por outro, sentem-se fortalecidas pelo carinho e atenção do Papa Francisco, com suas atitudes e documentos, e por um grupo de bispos, padres, religiosas e religiosos que caminham juntos, na trilha da Igreja Povo de Deus. Constatamos ainda, que há nas CEBs, grande esperança no processo sinodal em curso, fomentando um imenso sonho de comunhão e participação em todos os âmbitos eclesiais, por uma Igreja toda ministerial, superando o clericalismo.
À luz do horizonte de um novo céu e nova terra, que a Palavra de Deus nos traz, discernimos às margens do rio da esperança, por meio dos mitos geradores de vida nova e do rito que faz a utopia ganhar sonoridade aos ouvidos dos sonhadores e sonhadoras da caminhada. Novo céu e nova terra são horizontes dos sonhos, mas também se constituem no princípio articulador das mais diversas utopias que apontam para a grande utopia do Reino, realizado em Jesus e antecipado na vida das CEBs.
As CEBs, qual mulher grávida, continuam gerando o novo, recriando os caminhos de libertação, sob o impulso do verbo sair, que funciona como um fio condutor de toda a nossa existência. De Gênesis a Apocalipses, a caminhada do povo de Deus se deu sob a inspiração da Divina Ruah, fomentando um permanente sair. Do ventre da mulher ao ventre da pachamama, saímos sempre em busca da vida plena.
O AGIR nos enviou para cuidar. Cuidar para não perdermos o entusiasmo, para não banalizarmos a missão, para que as CEBs sempre tenham o coração ardendo pela Palavra e os pés firmes na caminhada do povo periférico. Cuidar dos grupos bíblicos de reflexão como sementes de novas comunidades. Cuidar da memória martirial e profética, das estruturas de comunhão e participação, do protagonismo das mulheres e das juventudes, da vida plena dos povos originários, da aliança e parceria com os movimentos populares, da força da sinodalidade que está na comunidade e dos processos de formação permanente. E em tudo, valorizar a força dos pobres nas iniciativas comunitárias e não deixar que nos roubem as comunidades!
E assim, com a esperança do verbo esperançar, dispostos e dispostas a seguir nossa caminhada como CEBs – Igreja em saída para as periferias, partimos de Rondonópolis, certos de que, Jesus de Nazaré, a multidão de testemunhas, e os Mártires da Caminhada, seguirão animando e conduzindo as CEBs para as Galileias periféricas das terras mato- grossenses ao Estado do Espírito Santo, onde seremos acolhidos por nossa Senhora da Penha.
Rondonópolis, 22 de julho de 2023. 15º Intereclesial das CEBs