Conselho em preparação ao Sínodo da Amazônia se reúne em Roma
de Agências CIMI, REPAM – 12/04/2018
Na Secretaria para o Sínodo estiveram reunidos na manhã de quinta-feira, 12 de abril, os 18 membros do Conselho pré-sinodal e mais 13 especialistas em questões amazônicas, na abertura dos trabalhos do pré-Sínodo. O encontro de abertura foi presidido pelo Papa Francisco.
Francisco estabeleceu que a assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a Pan-amazônia, programada para outubro de 2019, terá como tema: “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral”.
O cardeal Lorenzo Baldisseri, secretario do Sínodo, definiu a Amazônia como um jardim de imensas riquezas e recursos naturais, terra mãe de povos indígenas, com uma história própria e um rosto inconfundível. Terra ameaçada pela ambição sem limites e o afã de domínio dos poderosos.
Outro elemento, foram os novos caminhos que estão no título deste Sínodo que se realizará em outubro do ano que vem, enquanto a terra amazônica apresentada como um espaço sócio cultural que implica um duplo desafio: por um lado, um desafio para a Igreja, no sentido que a Amazônia é uma terra de missão, com características próprias que exigem caminhos novos e soluções apropriadas para inculturação no Evangelho; por outro lado, não menos importante, está o desafio apresentado pela problemática ecológica, que exige como resposta uma ecologia integral na linha com a Encíclica Laudato Si.
Os trabalhos do Conselho pré-sinodal para a Amazônia continuam até sexta-feira, 13 de abril, pela tarde. Os encontros contam sempre com a presença do Papa Francisco. Os documentos preparatórios, chamados lineamenta, baseiam-se no método ver, julgar e agir.
Padre Justino Rezende, da etinia Tuyuca, era o único indígena presente. É um missionário salesiano há 34 anos e sacerdote há 24. Na sua apresentação ao Santo Padre e aos demais membros do pré-Sínodo, falou de sua alegria de ser um dos participantes, de estar pela primeira vez diante do Santo Padre e da presença da Igreja no meio de seu povo. “Se não fosse a Igreja já teríamos acabado – disse Padre Justino – a Igreja está presente, muitos missionários adquiriram o rosto indígena, aprendendo a cultura, o idioma, as tradições e não quiseram mais retornar. Estão sepultados conosco. Graças ao nosso bom Deus, pelo trabalho missionário surgiram muitos leigos comprometidos com a Igreja – catequistas, ministros extraordinários, religiosos e sacerdotes. E este é o rosto que temos a oferecer enquanto Igreja. Estamos lá, mas também aqui no coração da nossa Igreja”.
Na ocasião desta visita, o Papa Francisco recebeu o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, publicado anualmente pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O presidente da entidade e arcebispo de Porto Velho (RO), Dom Roque Paloschi, entregou o levantamento ao Sumo Pontífice na Cidade do Vaticano durante abertura da reunião preparatória ao Sínodo da Amazônia, marcado para outubro de 2019.
A secretaria executiva do Cimi informa que Dom Roque transmitiu ao Bispo de Roma a preocupação da entidade com a atual conjuntura de retirada de direitos imposta pelo governo Michel Temer – caso das demarcações de terras submetidas ao Parecer 001 da Advocacia-Geral da União (AGU). Para a entidade, o desmonte da democracia em curso afeta, sobretudo, as populações mais vulneráveis e entre elas estão os povos indígenas.
Pelo Cimi estavam presentes no diálogo com o Papa, ao lado de Dom Roque, o ex-presidente da entidade e bispo emérito do Xingu (PA), Dom Erwin Kräutler, e o assessor teológico, padre Paulo Suess. Os três fazem parte do Conselho Sinodal.
No Relatório, o Papa Francisco lerá que a violência contra os povos indígenas no Brasil levou a 118 assassinatos, em 2016. Ao todo, 106 indígenas se suicidaram neste mesmo ano; 735 crianças indígenas menores de 5 anos morreram por causas diversas, como desnutrição. Francisco já conhece os dados dos anos anteriores: em 2015, foram 137 assassinatos; 2014, 138. Já em 2013, quando foram contabilizados apenas os casos levantados pelo Cimi sem a ajuda dos dados estatais, foram 53.
Esta é a terceira oportunidade em que representantes do Cimi anunciam e denunciam ao Papa Francisco a situação dos povos indígenas no Brasil. O primeiro encontro ocorreu em abril de 2014, com as presenças de Dom Erwin e padre Paulo Suess; o segundo em julho de 2017, já com Dom Roque presidindo o Cimi, e, por fim, este de hoje. Todos ocorreram no Vaticano
Fonte: CIMI, REPAM.