O CELAM e a organização da missão na América Latina
de Estêvão Raschietti - 05/05/2022
Quando se fala de missão na América Latina é preciso sempre especificar do que se trata. Há aqui certa incompreensão geral, ou até certa aversão, pela missão ad gentes, pela sua herança colonial de um lado, e pelo muitos desafios internos que o continente apresenta em termos de atuação e de organização eclesial, assim como em termos de pobreza, justiça, paz e transformação social. Apesar de Puebla (1979) alegar que a evangelização nos últimos cinco séculos deu origem a um “radical substrato católico” (DP 1) – hoje já bastante encoberto por outras propostas cristãs, para-cristãs e pós-cristãs – a conferência de Santo Domingo (1992) foi obrigada a afirmar que a maioria dos batizados na América Latina nunca deram sua adesão pessoal a Jesus Cristo (DSD 33b).
Por sua vez, a recepção criativa e original do Vaticano II inaugurada por Medellín (1968), levou as igrejas latino-americanas a repensarem a missão em termos atualizados, abrangentes e contextualizadas, com o protagonismo primário das igrejas locais e não das organizações missionárias, tendo como interlocutores privilegiados os pobres e o povo de Deus na sua totalidade, ainda carente de uma efetiva evangelização e sob a égide da “violência institucionalizada” de um sistema capitalista neocolonial.
Numa situação que via a América Latina ainda na sua quase totalidade em estado de missão, onde as fronteiras entre um território de missão e o de uma igreja estabelecida eram bastante tênues, uma organização missionária havia de ser pensada tendencialmente ad intra mais que ad extra, com poucos morosos passos em direção aos outros continentes, até em direção às situações tipicamente ad gentes – povos culturalmente não-cristãos – dentro do próprio continente.
Trataremos, portanto, da caminhada missionária no seu conjunto, com um olhar especial, porém, voltado à dimensão universal ad gentes, impulsionada pelo Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) através de seus departamentos.