Por uma Igreja com rosto amazônico e com rosto indígena
de Patrícia Fachin – 11/05/2018
A busca de novos caminhos para a evangelização, especialmente das comunidades indígenas que vivem na Amazônia, mote que orienta o Sínodo Pan-Amazônico a ser realizado em outubro de 2019, significa a “busca de um novo paradigma para a evangelização”, “porque, mesmo depois de 500 anos, nos caminhos da primeira evangelização ainda há entulho teológico-pastoral da época do império e da colonização impedindo que se forje uma Igreja autóctone”, diz Paulo Suess à IHU On-Line, ao comentar o sentido da convocatória feita pelo papa Francisco.
Segundo ele, atualmente “os povos indígenas no Brasil são, basicamente, atendidos por uma Igreja missionária que encaixa a pastoral indigenista na missão ad gentes”. Entretanto, adverte, “a bússola dos ‘novos caminhos’, que o papa Francisco propõe em seu discurso de Puerto Maldonado, aponta para ‘uma Igreja com rosto amazônico e uma Igreja com rosto indígena’, que os destinatários desse discurso, em sua soberania autodeterminada, deveriam construir. Essa Igreja autóctone não se constrói de fora para dentro: ‘Precisamos que os povos indígenas plasmem culturalmente as Igrejas locais amazônicas’. Os ‘novos caminhos’ exigem ‘avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária’ (EG 25)”.
Na avaliação de Suess, apesar do apoio que a Igreja manifesta às comunidades indígenas no Brasil, elas “estão longe de uma plena participação nos processos de evangelização. Uma ‘reserva’ ou restrição ministerial é mantida através de padrões culturais, na formação. Para o acesso aos ministérios de liderança eclesial mais decisiva, como a dos presbíteros ou bispos, a Igreja exige, além do celibato, formação acadêmica, culturalmente inadequada e, economicamente, inacessível aos povos indígenas. (…) Para os povos indígenas, o problema de uma Igreja alienígena não é a cor branca dos seus representantes, mas a incapacidade deles, de falar a sua língua, conhecer seu passado, comer a sua comida e compreender seu pensamento”, relata.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, Suess também comenta a reunião da Comissão Pré-Sinodal, realizada nos dias 11 e 12 de abril deste ano, em Roma, que discutiu a primeira versão de um documento preparatório para o Sínodo.
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