Simpósio de Missiologia resgata sinodalidade e comunhão na Igreja
de Jaime Patias – 24/02/2017
As reflexões do 6º Simpósio de Missiologia que acontece em Brasília (DF), giram em torno de três eixos: alegria do Evangelho; sinodalidade e comunhão; testemunho e profetismo. As temáticas fazem parte do Texto-base do 4º Congresso Missionário Nacional (4º CMN) a ser realizado nos dias 7 a 10 de setembro de 2017, em Recife (PE).
Na programação do Simpósio, o eixo da “sinodalidade e comunhão” foi apresentado pelo teólogo Paulo Suess. A abordagem foi feita à luz do magistério do papa Francisco em uma das conferências nesta quarta-feira, 22.
“O anúncio do Evangelho no mundo atual pode ser e é a causa da nossa alegria”, afirmou Paulo Suess para, em seguida, elencar cinco alegrias: 1. a Missão como alegria de ser enviado e convidado a encontros e descobertas; 2. a Encarnação como a alegria da proximidade; 3. o Diálogo como alegria da comunicação com o diferente; 4. a Misericórdia como alegria de acolher e ser escolhido; 5. a Sinodalidade como alegria de caminhar juntos e viver em comunhão.
“Essas cinco alegrias são interligadas e ao falar da “sinodalidade como alegria de caminhar juntos e viver em comunhão falo de uma maneira implícita também da alegria da missão, da encarnação, do diálogo e da misericórdia”, explicou Paulo Suess.
O teólogo recordou que, “sinodalidade e comunhão” é um conceito síntese que retoma e desenvolve as reflexões feitas nas conclusões de Puebla (1979) e no Documento de Aparecida (2007). “No centro de Puebla (563-1120), está a evangelização na Igreja da América Latina descrita como ‘comunhão e participação’. Podemos compreender a sinodalidade, o caminhar junto, como um aspecto central da participação em comunhão. Sem caminhar junto não pode haver ‘participação’ e sem ‘participação’ nas decisões, nas liturgias, na articulação das doutrinas e nas práticas pastorais, não pode haver sinodalidade”, argumentou Paulo Suess. No Documento de Aparecida percebe-se a predominância de uma “eclesiologia de comunhão que lembra Puebla, em suas reflexões sobre ‘comunhão e participação’. O prefixo da comunhão concreta é a espiritualidade de comunhão. Aparecida recomenda essa espiritualidade a todos”. Além disso, em Aparecida se encontra “uma visão explícita da Igreja como comunhão e uma visão mais implícita da Igreja Povo de Deus. A comunhão é missionária e a missão é para a comunhão”.
A missão como “Igreja em saída” e a sinodalidade como “prática da comunidade missionária” receberam impulsos decisivos do papa Francisco, que retomou as inspirações do Concílio Vaticano II (1962-1965) e de Aparecida (2007). “Uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta. Francisco pratica essa escuta ao citar como fontes de seus escritos muitas Igrejas locais e também o magistério científico dos teólogos”, sublinhou Paulo Suess.
Da comunhão e participação à sinodalidade
De acordo com a Conferência de Aparecida, “a eclesiologia de comunhão do Vaticano II aponta para o caminho sinodal. Coube ao magistério do Papa Francisco dar à “eclesiologia de comunhão” seu verdadeiro sentido de sinodalidade, porque os Sínodos pós-conciliares simularam uma participação sinodal, mas, na realidade, a impediram”, observou Paulo Suess. Em sua avaliação, temos uma eclesiologia de comunhão, realizamos sínodos, mas não avançamos. Permanece uma centralização excessiva, que complica a dinâmica missionária. A eclesiologia de comunhão permitiu pensar a unidade da Igreja na diversidade, mas não pode ser pensada sem participação e sinodalidade”, complementou. O teólogo lembrou que, a sinodalidade como caminhar junto, “não é somente um método, mas é também conteúdo da evangelização. Assim nasceu a missão de caminhar juntos, com alegria e misericórdia”.
Aparecida pensou a operacionalização da “natureza missionária” da Igreja em três círculos concêntricos como missão paroquial, continental e ad gentes, interligados no “caminhar juntos”. Também a Evangelii gaudium considera que numa Igreja sinodal se distingue três níveis: as Igrejas particulares, as Províncias e Regiões Eclesiásticas, e os Concílios Particulares, de modo especial, as Conferências Episcopais, que permitem uma “salutar descentralização” (EG 16 e 32).
“Como se pode perceber, a sinodalidade toca em pontos sensíveis e discutidos em nossas comunidades: ministerialidade, colegialidade, ecumenismo, magistério partilhado, autoridade como serviço, exercício do papado e de sua conversão”.
Ampliando o horizonte, Paulo Suess observou que “a sinodalidade tem um grande valor não somente para a Igreja, mas também para o mundo. O que vale para os líderes das nações, vale também para as pequenas comunidades que precisam zelar pela participação e a transparência, pelo anúncio do essencial e pela comunhão na caminhada”.
Em sua missão, a Igreja está a serviço de um mundo para todos. “A comunhão com os irmãos potencializa o compromisso com a sociedade. Sinodalidade e comunhão são um convite permanente à nossa conversão e à transformação de estruturas no mundo e da Igreja”, finalizou o teólogo.
O Simpósio reúne no Centro Cultural Missionário (CCM), dias 20 a 24, cerca de 70 pessoas entre teólogos, missiólogos, pesquisadores, representantes de instituições missionárias, agentes de pastoral de todo o Brasil. O evento é promovido todos os anos pela Rede Ecumênica Latino Americana de Missiólogos e Missiólogas (Relami), o Centro Cultural Missionário de Brasília (CCM), as Pontifícias Obras Missionárias (POM).
Fonte: POM