Simpósio faz memória da caminhada missiológica latino-americana
de Jaime Patias – 27/02/2013
O 2º Simpósio de Missiologia que acontece no Centro Cultural Missionário (CCM), em Brasília, abordou na manhã desta terça-feira, 26, o tema: “Memória e significado da caminhada missiológica latino-americana”.
Ao abordar esse tema, o professor de Ciências da Religião e assessor nacional das CEBs, Sérgio Coutinho destacou dois conceitos: libertação e nova evangelização e apontou as expectativas embutidas em cada um deles.
Para Sérgio Coutinho, “esses dois conceitos se tornaram não só categorias teológico-pastorais, mas duas categorias históricas importantes para estudar a história da Igreja, particularmente na América Latina”. Na opinião do historiador, ao celebrarmos o cinquentenário do Concílio Vaticano II, “esta reflexão nos possibilitará rever e avaliar a relação entre Igreja e história, entre Igreja e mundo, pois o Concílio manifestou uma abertura para o ‘século’ que podia ser traduzida como o reconhecimento de uma relativa autonomia do mundo e da história em relação à Igreja”.
A partir do Vaticano II, esses dois termos são os que orientam a prática missionária de grupos, movimentos, pastorais e comunidades eclesiais. A Conferência de Medellín (1968) contribuiu para desenvolver na Igreja do Brasil o sentido de latino-americanidade e de solidariedade continental.
Para mostrar o horizonte de expectativas que orientarão as ações da Igreja a partir daquele “tempo”, professor Coutinho citou o Documento Medellín onde os bispos falam “não basta refletir, obter maior clareza e falar. É preciso agir. Esta não deixou de ser a hora da palavra, mas tornou-se, com dramática urgência, a hora da ação. É o momento de inventar com imaginação criadora a ação a ser realizada e, sobretudo, levá-la a término com a audácia do espírito e equilíbrio de Deus”.
Fica evidente que uma “primeira libertação é explicitamente sócio-político-econômico”, argumentou. Do ponto de vista eclesial, segundo Coutinho, “o termo libertação também remetia para uma ruptura em relação a um ‘espaço de experiência’ que ainda marcava as relações entre a Igreja e a história, a Igreja e o mundo, e que estava contida no conceito de Cristandade, ou seja, uma ruptura em relação à nostalgia, o desejo de um retorno, de uma reconstrução, de uma restauração do primado religioso na história e que se traduziria no projeto de uma ‘civilização cristã’ na qual estaria implícita a reivindicação de um poder eclesiástico sobre a sociedade”. E completou: “o conceito de libertação vai na contra mão do conceito de cristandade”.
A partir do início dos anos de 1980 acontece uma ruptura no modelo eclesiológico defendido pelo Vaticano II e por Medellín: o termo libertação começa a perder espaço para o termo “Nova Evangelização” que carrega um projeto missionário para converter o mundo à Igreja Católica. “Nova Evangelização é um termo novo para um projeto histórico da Cristandade no qual não há verdadeira civilização fora dele. Quem precisa de conversão não é mais a Igreja, mas o mundo”, observou.
Professor Coutinho recordou ainda que, na V Conferência do Celam em Aparecida, o discurso do Papa Bento XVI está em concordância com o projeto de Nova Evangelização, embora não apareça explicitamente. “Esse conceito vem na esteira da chamada ‘mudança de época’ apontada como o principal erro dos tempos modernos. Vê-se a necessidade de se manter um projeto católico nessa nova realidade onde só o cristianismo é depositário dos valores capazes de formar uma sociedade ética”, sublinhou. Por fim, o conceito volta a ganhar força no Sínodo dos bispos para a Nova Evangelização realizado em Roma no mês de outubro do ano passado.
O 2º Simpósio de Missiologia, reúne no CCM em Brasília, cerca de 50 pessoas entre, docentes, teólogos, pesquisadores, representantes de instituições missionárias, agentes de pastoral e animadores missionários, de todo o Brasil. O encontro que abriu na noite desta segunda-feira, 25, se estende até o dia 1º de março.
Fonte: POM